Nos últimos anos, o Governo angolano tem aproveitado esse potencial hídrico, para produzir energia que cause menos impactos ao meio ambiente, através da construção, ampliação e reabilitação de barragens, segundo avançou o portal Angola Press.
Angola pretende, com estes investimentos, concretizar o desafio da transição energética, passando de fontes térmicas para hídricas e fotovoltaicas.
Apesar da crise económica e financeira que se regista desde 2014, devido à variação do mercado petrolífero, Angola tem estado a fazer um forte investimento no sector eléctrico, mobilizando recursos para financiar importantes projectos de infra-estruturas de produção e distribuição de energia eléctrica, em todo o país.
Entre os “grandes” projectos em curso, destaca-se a barragem hidroeléctrica do Luachimo, localizada na cidade do Dundo, província da Lunda-Norte, cuja inauguração está prevista para 17 do mês em curso.
É uma das poucas obras estruturantes que, em nenhum momento, registou paragem, apesar da crise financeira e a julgar pela sua importância na concretização da transição energética e na materialização da industrialização da província da Lunda-Norte.
As obras de reabilitação e ampliação do maior projecto energético do Leste de Angola, que compreende as províncias da Lunda-Norte, da Lunda-Sul e do Moxico, estão avaliadas em mais de 212 milhões dólares americanos financiados por via de uma linha de crédito da China.
Tiveram início, em 2016, e permitiram elevar a capacidade de produção de 8,4 para 34 megawatts (MW).
Para além das ligações domiciliares que, na primeira fase vão beneficiar mais de dez mil famílias, o projecto prevê cerca de 30 ligações industriais.
A empreitada compreendeu a reabilitação dos equipamentos mecânicos, a execução de um novo circuito hidráulico dimensionado para 240 metros cúbicos de água por segundo, constituído por tomada de água, canal de adução, câmara de carga e canal de restituição.
Foi também construída uma nova subestação de 60 quilovolts e remodelada a estrada de acesso à barragem, incluindo a passagem para a central.
A nova infra-estrutura da central tem 35 metros de altura, o equivalente a um prédio de 11 andares, numa área de 50 metros de extensão e 30 outros de secção transversal.
O edifício da antiga central foi reabilitado para servir instituições de ensino técnico, perspectivando-se ser o primeiro museu do sector de energia, em Angola.
A empreitada inclui ainda a recuperação da linha de transporte de alta tensão de 85 quilómetros até à vila mineira do Nzagi, município do Cambulo, com um valor adicional avaliado em 40 milhões de dólares.
A última etapa do projecto prevê o alargamento da rede de distribuição até à sede do Lucapa, incluindo a localidade de Calonda.
A linha de transporte vai também passar pelas localidades de Fucauma e Cassanguidi, tendo em consideração a existência de actividades económicas, sobretudo no sector da extracção mineira.
Características da barragem
A barragem do Luachimo tem um edifício de 300 metros de comprimento e 18,6 metros de altura, uma albufeira com um volume de 2.500 metros cúbicos e uma estrutura de betão compactado a cilindro.
Possui um descarregador de fundo, um canal de adução de água para a central principal, uma câmara de cargas, descarregador de superfície e uma tomada para central ecológica.
O canal possui o comprimento total de aproximadamente 649 metros e a central uma área de 2.280 metros quadrados.
A central principal, que receberá água, a partir de uma queda útil de 16 metros de altura, possui quatro grupos geradores, com 8.5 megawatts cada, quatro turbinas do tipo Klapn S 230 Rpm com 96 toneladas de peso total.
Demanda energética do Dundo
As necessidades energéticas da cidade do Dundo, capital da província da Lunda-Norte, são de 16 megawatts, quase metade da capacidade de produção de energia eléctrica da hidroeléctrica do Luachimo.
Ou seja, metade da capacidade de produção do Luachimo (17 megawatts) será suficiente para abastecer a cidade do Dundo e parte do município de Cambulo.
Redução dos custos de combustível
A redução do consumo e custos de combustíveis fósseis é um dos grandes objectivos do Estado angolano que no Plano de Acção do Sector de Energia 2023 – 2027, alinhado com a Agenda de Longo Prazo 2050, prevê a continuidade da diversificação do mix energético de forma a incorporar, pelo menos, 72% de energias renováveis, com isto, atingir a taxa de eletrificação de 50%.
De 2022 a Março desta ano, a província da Lunda-Norte, teve um consumo de combustível na ordem dos dois milhões, 208 mil e 176 litros de combustível que alimentaram a central térmica de Cacanda, no Dundo, cujos custos foram de 297 milhões, 868 mil e 760 kwanzas.
Em Abril deste ano, com a conclusão e entrada em funcionamento da barragem do Luachimo, o consumo de combustível foi apenas 309 mil, 807,70 litros, que custaram aos cofres do Estado 41 milhões , 824 mil e 39 kwanzas.
A Lunda-Norte, com mais de um milhão de habitantes, resulta da divisão da antiga província da Lunda, a 4 de Julho de 1978.
Está localizada no nordeste do país e é constituída pelos municípios de Chitato (capital política e económica), Cambulo, Caungula, Cuilo, Cuango, Capenda Camulemba, Lucapa, Lubalo, Lóvua e Xá-Muteba.