Sobre uma iniciativa do Project Value [Maximizar Valor], o Arquitecto Mário Gourgel, PMP, escreveu que nos últimos anos, tem-se constatado a utilização das palavras Adaptação, Adaptabilidade, como principal competência a ter actualmente e nas próximas décadas.
Na realidade, a importância da palavra é, em nosso entender, intemporal, uma vez que não há registos de delimitação da mesma a contextos específicos, sobretudo no que diz respeito aos ecossistemas, e não só.
Ecossistemas Naturais e a Adaptabilidade
Os elementos no mundo, sobretudo no que à materialidade diz respeito, não existem de forma isolada. São parte de ecossistemas, nos quais têm papel importante, seja para se potenciarem através destes, seja para os potenciarem e continuamente possibilitarem a alteração, ou mudança, de um estado para outro num processo de permanente e constante adaptação. Disso são exemplo as bactérias, às quais os seres humanos devem a sua existência e sobrevivência, pois a capacidade de se adaptarem tem sido objecto de consenso mundial sobre a não produção dos antibióticos para que não criemos as superbactérias, um autêntico perigo para a adaptabilidade da humanidade às. No reino vegetal, a adaptabilidade também está presente, algo constatável em diferentes contextos geográficos, cujos exemplos mais simples são, o ciclo da água, a queda das folhas das árvores no inverno e o crescimento destas no verão.
Energia, Eficiência e Equilíbrio
Ao observar o funcionamento do ambiente, não é muito comum estarmos atentos à repetição de fenómenos os quais, devido à consistência, configuram padrões.
A percepção destes padrões está directamente ligada ao funcionamento da nossa base genética a qual procura, a maior parte do tempo, economizar recursos, entre os quais o que mais valor tem e é fundamental para a existência da humanidade: a energia. A forma e expressão da energia, para lá dos conceitos filosóficos, é a base de vida para tudo e esta apresenta-se em todo o lado.
Nesse contexto, os processos de adaptação ou adaptabilidade são uma expressão de energia, à procura de equilíbrio, num processo que se configura como eficiência, nos ecossistemas. O equilíbrio é desejável para conservação ou poupança de energia, o que pressupõe optimização, para que o alcance tenha valor para todo o ecossistema.
A Adaptabilidade em Ambiente e Contexto de Gestão de Projectos
Considerando que a gestão de projectos é um corpo de conhecimento que agrega técnicas, ferramentas e abordagem para mudar o status quo, desenvolver um produto ou inovar, é possível alcançar estes objectivos por meio da utilização de abordagens distintas, entre as quais as mais conhecidas e difundidas são, a preditiva, também denominada sequencial, para projectos com escopo, ou âmbito, controláveis, e a ágil, para projectos com escopo indefinido ou explorável até ao alcance do que se pretende, sendo esta última centrada na criação de valor para o cliente. O mundo e a sua dinâmica desde há algum tempo, por influência de acontecimentos complexos e imprevisíveis, como a geopolítica, as alterações climáticas, as questões sociais, as financeiras globais, comporta estes ecossistemas distintos que mutuamente se interligam e podem ser configurados como modelos mentais para que os possamos compreender melhor.
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
Nesse sentido, a abordagem para cenários e circunstâncias como estas, em torno dos projectos, reclamam a utilização de outras abordagens para entregar valor. Actualmente, tem-se falado da utilização da abordagem híbrida, uma vez que esta comporta a utilização das duas anteriormente mencionadas, bem como outras que possibilitem a realização dos projectos.
Uma das razões que parece objectiva é a necessidade de adaptação. Sim, a adaptabilidade necessária que os projectos precisam para a entrega de valor para os clientes, para as
organizações e para a sociedade, sendo também uma habilidade requerida para o mercado profissional. Neste contexto, o ambiente de projecto é uma extensão dos ecossistemas acima descritos, no qual se conjugam pessoas com ideias, conhecimento, e experiências distintos, que permitem enriquecer a transformação a operar e os resultados finais.
“O equilíbrio é desejável para conservação ou poupança de energia.”
As lições aprendidas desta reflexão que se partilha é de que temos que observar que, enquanto seres humanos, somos parte de um ecossistema que influencia e é influenciado por outros. Que neste interlaçar e ponto de contacto entre ecossistemas está a base da nossa capacidade de adaptação e que, somente desta forma, iremos fazer perpetuar o que está a nossa volta e nos envolve e, ainda, como sociedade “civilizada”, só continuaremos a sê-lo se continuarmos a estar conectados à nossa base genética, à causa raiz da nossa existência, e que só desta forma têm sentido os resultados que os projectos pretendem alcançar.