Liderança Ética e Responsabilidade Social

Nesta edição, escreveu exclusivamente para O PORTAL PMO ANGOLA, o Doutorado Profissional em Liderança e Administração de Empresas Pedro Félix Manuel Zola.

O profissional escreveu que a complexidade na gestão organizacional é crescente, tal como o progresso ininterrupto das organizações e das sociedades. É assim natural que urja a demanda pela constante e completa capacitação dos líderes, para que possam ter respostas afinadas para os desafios emergentes.

Sendo um sistema dinâmico, uma organização exige constante adaptação e concertação com o contexto externo. Analisaremos algumas perspectivas sobre liderança ética e responsabilidade social, à luz do seu contributo para a concretização de objectivos organizacionais.

Este artigo é particularmente relevante pela abordagem de ângulos menos explorados da liderança ética e do seu impacto organizacional e social. Enfatiza o quão basilares são a presença e a influência da liderança em qualquer fase: iniciativas não prosperam sem liderança, progresso não ocorre sem liderança, mudanças não se materializam sem liderança e melhorias não se alcançam sem liderança. Tudo advém da assunção de uma liderança ética e responsável, mudanças significativas, progresso nacional, aperfeiçoamento de organizações e empresas, etc.

A Problemática da Liderança nos nossos dias

A liderança é um desafio intrínseco da condição humana. As consequências perniciosas decorrentes de líderes desprovidos de competência e preparo são globalmente sentidas. A lacuna na capacitação intrínseca das lideranças é bastante mais comum do que seria desejado.

Indicação, nomeação, promoção ou reconhecimento estão na origem da maioria da ascensão a cargos de liderança – a formação específica no campo da liderança não tem sido condição sine qua non. Indicação não é necessariamente sinónimo de capacitação; experiência e exercício do poder não substituem necessariamente a preparação. Há que sublinhar a necessidade premente de melhoria contínua, mesmo em líderes com elevada reputação carismática, para alcance de liderança verdadeiramente eficaz; a formação contínua, a aprendizagem auto-didacta, a mentoria são, entre outras, algumas estratégias actualmente ao nosso dispor.

Conhecemos líderes nos mais diversos campos – económica, política, religião, etc. – cujo carisma, influência e capacidade de comunicação são indiscutíveis, mesmo que não tenham sido submetidos a formação sistematizada em liderança. A sua visão, sentido de missão, paixão e convicção eram ímpares. Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e Martin Luther King Jr. São incontornáveis exemplos de liderança.

O contexto actual requer evolução permanente nos métodos e modelos de liderança. As mudanças são rápidas e constantes, pelo qual a capacidade de adaptação contínua e resiliente se assume como factor de sucesso de qualquer liderança. Há um novo perfil de colaboradores altamente capacitados em múltiplas áreas, o que, em parte, é o reflexo de um maior acesso à educação e à informação, bem como da incontornável revolução digital. Daqui decorre um aumento na produtividade e competitividade das organizações, simultâneo a um senso crítico, auto-consciência de valor, competências, direitos e responsabilidades por parte dos colaboradores. Esta dinâmica redobra os desafios das lideranças actuais e releva competências como a inteligência emocional, aprendizagem contínua, flexibilidade, empatia e escuta activa, espírito colectivo, auto-conhecimento, assertividade, gestão de conflitos e geração de oportunidades para os colaboradores. Aprender e inspirar pelo exemplo é parte da definição do líder actual.

A Importância de uma Liderança Ética

Liderança é a capacidade de motivar, influenciar e orientar um grupo de forma ética e responsável, para que voluntariamente contribuam para os objectivos da organização e do grupo.

A acção do líder pode impactar toda a organização e, por vezes, a própria sociedade, pelo que a conduta ética é pedra basilar para o desenvolvimento da liderança. Muitas vezes, a origem de uma crise financeira é ética, e não meramente financeira. Várias são as narrativas conhecidas de líderes corporativos, políticos, religiosos… que muito trabalharam em prol dos seus sonhos e metas mas que acabaram por perder tudo devido a atitudes anti-éticas. Perderam a sua influência e poder, tendo alguns sido demitidos o mesmo forçados a renunciar, viram a sua reputação exposta publicamente e inclusive alguns esbarraram em processos judiciais. Estes líderes terão perdido a confiança das suas organizações, dos seus colaboradores, das suas nações, dos seus outrora fiéis seguidores e, em muitos casos, até das suas famílias. Quando o poder e os privilégios conferidos pela sociedade são erradamente utilizados com fins egoístas e anti-éticos, não há habilidades nem carisma que impeçam a sua queda.

Há uma crise acentuada de credibilidade em instituições, empresas e líderes e a ética sustenta a liderança e a influência duradoura. Apesar disso, raramente ela é ensinada aos líderes actuais. A comunidade científica tem, contudo, vindo a demonstrar interesse crescente na temática de liderança ética.

A liderança ética potencia acções pessoais, comunicação bilateral e apoio à tomada de decisão e relacionamento com stakeholders. Virtudes como prudência, coragem e moderação caracterizam o comportamento de um líder ético. Além disso, promove a justiça organizacional, alinha valores e acções, contribuindo para a promoção do optimismo entre os liderados, enquanto influencia a ética dos mesmos. A confiança e satisfação das equipas são também reforçadas. A imitação é uma das formas mais eficazes de aprendizagem – na presença de um líder ético, os liderados tenderão a espelhar a mesma postura.

O Papel da Liderança na Responsabilidade Social Empresarial


Incorporar práticas de responsabilidade social na rotina das empresas pressupõe a assimilação de diversos aspectos sociais, económicos e ambientais nas organizações, como os critérios ESG (sigla em inglês que significa environmental, social and governance; e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização) e os ODS (Objectivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU, Agenda 2030 que é actualmente o principal guia para as empresas ou organizações adequarem suas actividades às práticas alinhadas aos desafios sociais, ambientais e de governança que o planeta enfrenta.

Para que essas directrizes sejam absorvidas com mais naturalidade e, principalmente, com mais sentido, é fundamental que a alta liderança se comprometa com cada uma delas.

Uma liderança movida pelo propósito já tem, naturalmente, uma inclinação à adopção de práticas socialmente responsáveis no dia a dia. Entretanto, ainda assim, enfrenta alguns obstáculos, próprios de qualquer líder que tome decisões para relacionar liderança e responsabilidade social.

A pesquisadora Ângela de Oliveira, no seu estudo de doutoramento pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008), abordou a complexidade das relações entre a liderança como catalisador para “equilibrar resultados económicos, sociais e ambientais” e “colaborar com a construção de uma nova ética”.

A solução para esse impasse pode estar no conceito de valor partilhado. Sistematizado pelos professores de Harvard Michael Porter e Mark Kramer, o conceito de valor partilhado defende, em qualquer negócio, a coexistência equilibrada de geração de valor e de impacto social.

Por outro lado, aliar a liderança e a responsabilidade social abre um leque de possibilidades para consolidar os valores da empresa sob as mais variadas ópticas, nomeadamente:

  1. Incluir o posicionamento de Responsabilidade Social Corporativa na tomada de decisões.
  2. Incluir aspectos sociais nas tomadas de decisões. Isso significa ajustar o mindset coorporativo para não pensar exclusivamente em lucros e resultados, mas sim na melhor forma de aliar rendimentos e resultados a impacto positivo.
  3. Procurar saber mais sobre a relação entre retorno financeiro e práticas ESG.
  4. Fortalecer os valores de RSE na sociedade traz benefício duplo: aumenta a credibilidade da organização perante os fornecedores, parceiros e clientes, e motiva os colaboradores, que percebem a solidez do compromisso assumido pela organização.
  5. Experienciar a responsabilidade social no dia a dia e estimular os colaboradores.

Os líderes que colocam em prática os valores de responsabilidade social são vistos como referências e não apenas como modelos a seguir. A diferença entre os dois conceitos é simples na teoria, mas, na prática, pode transformar as relações de trabalho e os resultados das empresas. Um modelo é uma figura distante, admirável, mas pouco palpável; uma referência é capaz de motivar e inspirar verdadeiramente. É uma figura acessível, próxima e alcançável.

Um líder-referência estimula os seus colaboradores à criação e proposição. Escuta e valoriza as contribuições da equipa para tornar as políticas de responsabilidade social cada vez mais intrínsecas ao DNA da empresa e benéficas ao seu público-alvo.

Acções de uma Liderança Socialmente Responsável

Garantir salários justos, criar um ambiente com condições de trabalho e o cumprimento pontual das obrigações fiscais e com fornecedores também são um reflexo de responsabilidade social empresarial, transcendendo a mera busca por lucro. Empresas com gestão inadequada têm potencial para gerar danos sociais de larga escala. Isso é notório ao considerar que as crises globais de 2008 tiveram origem em grandes empresas que foram administradas de maneira negligente. Dessa forma, não é viável ignorar a gravidade de lideranças ineficientes.

Uma entidade dirigida de maneira negligente pode deflagrar uma série de consequências adversas, incluindo desemprego em sua própria estrutura e entre seus fornecedores, impactos ambientais negativos, perturbações na comunidade onde está inserida e até mesmo crises económicas. Diante disso, a cadeia de valor organizacional deve almejar um equilíbrio que gere benefícios a todos os parceiros, directa e indirectamente envolvidos.

Características de um Líder Responsável

  1. Criar valor para o conjunto de parceiros, incluindo a comunidade em que está inserido e não apenas para accionistas, ou seja, cria valor para os accionistas e para a sociedade. Não criar valor para os acionistas à custa do valor para a sociedade.
  2. Diálogo construtivo e inteligência emocional: Cria sinergias positivas em vez de apenas gerir conflitos, fazendo aproximações entre as partes interessadas, trazendo ao de cima o melhor das pessoas.
  3. Inteligência ética: Encontra pontos de convergência onde existem interesses muito opostos e toma decisões com base na ética.  

Caros leitores do PORTAL PMO ANGOLA, é importante unir liderança ética e responsabilidade social. Além de promover uma cultura organizacional baseada em valores, também reforça os compromissos da empresa com a sociedade. E essa parceria de sucesso também inspira e traz motivação à rotina de trabalho.

Para tal, precisamos de lideranças competentes, eficazes e capacitadas. Líderes que tenham o princípio do centro da vida, líderes éticos, morais e visionários, que possam dar conta dos desafios actuais e corrigir a orientação do negócio.

Espero que este artigo ajude a transformar a sua maneira de pensar sobre si mesmo e sobre as suas habilidades de Liderança.

LIDERANÇA É INFLUÊNCIA

“UM EXÉRCITO DE OVELHAS LIDERADO POR UM LEÃO DERROTARIA UM EXÉRCITO DE LEÕES LIDERADO POR UMA OVELHA”

10 thoughts on “Liderança Ética e Responsabilidade Social

  1. Wau grande tema.Infelimente as lideranças não tem sido uma condição sine qua non.Os líderes não colocam em pratica a ética profissional q tem haver com com os valores as normas padrão responsabilidade no individo. Não tenh capacidade de motivar influenciar e orientar um grupo de forma etica e responsável . Vamos pedir a Deus para nos mandar de volta homens como Nelson Mandela e Luther King 😂

  2. Agradeço em primeira instância a partilha deste Artigo que aborda acerca da liderança ética e Responsabilidade Social, pesa embora não ser temática que não se insere ao meu eixo social directamente, mas posso com um pouco de ousadia deixar meu comentário. Neste quesito compreendo que todo homem que atinge uma certa maturidade é desnecessária um líder de um mercado, tanto quanto doméstico (familiar) ou profissional (organizacional) . Então aqui nos revemos como tal a nossa atenção de exprimir nossas ideias que auguram o na alma como leitor desse artigo.

    1. Todo líder deveria ter uma visão mais abrangente, devendo considerar os valores menos significativos para buscar os mais significativos. Com isso queria dizer que não se constrói um edifício sem fundações interradas e não visíveis da real imagem que reflecte a beleza arquitectónica daquela construção. Não se pode pôr de parte àquelas forças invisiveis, fundamentais e funcionais que asseguram uma estrutura organizacional como por exemplo um encarregado da limpeza. Assim entendo que para se ter uma Organização forte e responsável é necessário ter uma liderança mais forte alicerçada na base da Ética e Responsabilidades Social, que actua directamente para o desenvolvimento racional económico, social, política, empresarial ou religiosa.

    2. Muitos dos líderes, falham na sua liderança é justamente a falta de Ética e Responsabilidade Social; por isso a falta da liderança ética e responsabilidade social é um factor que inviabiliza os objectivos bem definidos de uma organização. Como por exemplo vemos os líderes sociais (políticos) africanos, por falta ou ignorância da liderança ética, sentimos as nossas sociedades a clamar por necessidades básicas, mesmo com riquezas, financiamento avultados com indicadores de mudança de estilo de vida, mas ao cabo de tudo nada muda, porque faltou a liderança ética.

    Então um líder é um indivíduo composto da razão, capacidades (intelectuais, emocionais e espirituais) que lhe caracteriza como tal, mas quando se perde a razão, torna-se um irracional. Imaginemos este for um líder de uma organização, os objectivos deste não serão concretizados. Logo aí está a fundamentação da importância da aplicabilidade da liderança ética nas organizações.

    Pois não é preciso ter uma Empresa, uma Paróquia, um Partido Político ou uma Província para se tornar um líder, basta ter um espírito, uma iniciativa, uma visão, uma família ou até basta ser um homem maturo você é já um líder e aonde estiver inserido deve aplicar uma liderança ética e comprometido com sociedade para prosperar em todas suas acções técnicas e profissionais.

    Para terminar, mais uma vez renovo os meus votos, e dizer ao Doutor Pedro Félix Manuel Zola que continue a iluminar nossas mentes com temas vocacionados com a liderança. CRESCE CONNOSCO!…

  3. Muito obrigado pela chega, caro Dr. Pedro Zola ! Confesso que desde que o conheci, o meu modo de pensar, agir, fazer e vestir, mudou radicalmente. És uma enorme bênçãos para os jovens deste século e que sá os mais velhos.

    Bem haja, e que o Senhor continue te capacitando e guardando.

  4. Excelente abordagem sobre a temática dos valores imutáveis como moral, ética para desenvolver líderes para os desafios atuais e futuros.

    Acredito imenso que a educação é capaz de transformar vidas e impactar positivamente na mobilidade social.

    Apostar na capacitação dos líderes é um dos principais aliados no processo de construção de organizações que inspiram.

    Grande abraço Dr. Félix Zola

  5. Muito obrigado pela partilha Dr. Zola, certamente que depois de ler este conteúdo sobre liderança, já não seremos a mesma pessoa. Que continue a motivar, impulsionar a juventude. Saiba que tem a minha Admiração

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